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Experiência #36 - Macau e Hong Kong



Preciso contar sobre Macau e Hong Kong juntos porque eles têm uma forma de governo bastante peculiar. Ambos são definidos como Região Administrativa Especial da República Popular da China. Isso significa que essa república tem soberania sobre as regiões, a qual foi concedida pelos seus colonizadores, Portugal e Reino Unido respectivamente, ao final da década de 90. Certamente também porque são pequenas penínsulas e ilhas ao sudeste desse país gigante. Macau e Hong Kong ainda sim têm suas autonomias, como seu próprio sistema financeiro, judicial e imigração, ao passo que a China controla o sistema de defesa e relações exteriores. Deu pra sentir que existe uma diferença como, por exemplo no visto, já que brasileiros não precisam para ambas regiões, mas precisam para China.


É difícil saber a verdade concreta, pois algo essa soberania deve levar nesse acordo. Independentemente disso, ambas “regiões” estão progredindo muito bem, segundo as notícias. Existe até um princípio chamado de “Um país, Dois Sistemas” que tenta regulamentar essa relação que, em teoria, vale por cinquenta anos e mantém a China continental socialista e as regiões capitalistas. Estranho e sabe lá o que acontecerá.


Alguns fatos que, normalmente, ninguém sabe são que esses países estão no topo das listas de IDH, expectativa de vida e PIB per capita, segundo as estatísticas dizem. Deu pra acreditar mais nisso ao ver nas ruas uma organização e limpeza impecáveis, transporte público excelente e tudo funcionando. O consumismo e a ostentação estão em alta, com obras arquitetônicas pomposas, carros luxuosos e intermináveis joalherias. É inclusive bem comum ver gente com malas de viagem andando pelas ruas o tempo topo preparadas pra comprar de tudo. Mesmo com os produtos locais (chineses) baratos, vi muito mais lojas de alto padrão com preços caros e sempre cheias de gente. A coitada globalização…



O custo de vida em ambos países é altíssimo, de acomodação à comida. É uma evidência que quando a economia se desenvolve só quem tem um alto nível financeiro é bem-vindo. Por não ser o nosso caso, resolvemos ficar apenas uns dias e não pudemos conhecer um projeto, mas muito levei dessa experiência.


Além disso tudo, Macau é o maior centro de apostas do mundo, o que quer dizer concentração de casinos. Segundo a internet é maior que Las Vegas, acredite se quiser… Os hotéis são complexos gigantescos, mas independentemente disso as ruas do país têm seu ar boêmio muito agradável. São diversas pracinhas escondidas, arborizadas e cuidadas, como o “Pátio da Eterna Felicidade”, além de prédios antigos bem conservados que lembram um pouco os do centro de São Paulo pela influência portuguesa, claro.


Como o português é um dos idiomas oficias, cheguei todo animado porque finalmente poderia conversar no meu idioma de novo. Contudo, já no “boa noite” pretensioso na imigração o oficial não respondeu, nem inglês, assim como o rapaz do guichê de informações e do ônibus. Eu mantive a esperança e fiquei perguntando alto em português nas ruas o tempo todo, mas sem sucesso. Foi uma decepção… Na verdade só se utiliza oficialmente no governo e pelos poucos portugueses que ainda vivem lá. Pra matar a saudade do português (o idioma, não o Manuel) jantamos num restaurante típico, onde, além da comida deliciosa, foi muito bom conversar e entender o que a mesa do lado dizia. Não que eu estivesse bisbilhotando, mas você se sente mais terráqueo de novo por entender ao seu redor. Infelizmente, no fim das contas a desilusão da comunicação foi ainda mais grave, porque mesmo o inglês é muito pouco falado, elevando assim o grau de complexidade no dia-a-dia. É triste ver que um país tão promissor e com padrões tão altos de desenvolvimento não foi capaz de priorizar essa educação que pode melhorar e muito a troca de informações e aprendizado mútuo.



Hong Kong tem essa mesma limitação linguística, o que me pareceu ainda mais estranho por ser o terceiro maior centro financeiro do mundo. Exibe uma coleção de arranha-céus modernos, ainda mais lojas de luxo e uma joalheria a cada esquina do centro, sem exagero. Tive uma surpresa divertida de ter reservado um quarto de hotel e, ao invés disso, ter sido recebido por uma caixa de fósforo num corredor de um edifício de escritórios. A malandragem transcende a internet… Pelas ruas deu pra sentir quão grande a população é por ali, metrôs sempre lotados, filas e esbarra daqui e esbarra dali o tempo todo. Confesso que foi um pouco incômodo, mas faz parte de sentir a realidade local com empatia.



Toda a discussão de consumo consciente se fez presente ali. A quantidade de pessoas que vi torrando dinheiro em coisas fúteis foi assustadora. Ok, o critério de necessário é relativo, mas ver famílias inteiras com malas numa joalheria onde o brinco mais barato da vitrine custa umas boas centenas de dólares tem um certo significado… A solução para remodelar todos os modelos de negócio para um consumo mais correto é definitivamente complexa, mas e se simplesmente deixássemos de querer o que não sabemos porque queremos e começarmos a pensar mais o que realmente queremos porque precisamos? Esse ponto não tem relação alguma com doar ou ajudar alguém, apenas para refletir sobre o que precisamos. Cada um cada um, o livre arbítrio é um direito universal, mas temos que sempre ponderar que nossa forma de pensar é altamente influenciável e o conflito de interesses é parte dessa lambança mental.


Essa influência é tão loucamente inserida na nossa cabeça que eu mesmo notei que uma hora eu estava me esforçando pra pensar em algo que eu precisasse comprar só porque nessa região é tudo mais barato e eu não podia perder a oportunidade… É como uma ferramenta psicológica de auto defesa financeira pra sempre pensar em gastar menos independentemente de precisar, mas gastar. Ainda bem que a consciência voltou ao controle em tempo…

Foi o começo para aprender uma cultura diferente que sempre quis conhecer, seus lados bons e ruins. Apesar desse povo ter um padrão de comportamento bem diferente ao que estou acostumado e eu ter chegado com alguns preconceitos, sai de lá surpreendido. Com as experiências das seguintes semanas na China vai dar pra entender melhor esses contrastes da maior população do mundo. Haja gente!


Felipe.

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