Nossa passagem por Moçambique está sendo tão valiosa que apenas um post não seria suficiente para contar sobre todos os projetos incríveis que conhecemos por aqui. O Fe já escreveu sobre alguns deles e aproveitou para contar também um pouco da história do país. Se você ainda não leu, clique aqui O contexto social e político trazido na Experiência #6 nos ajuda a compreender melhor os desafios enfrentados pelo povo moçambicano.
Um deles é a prática da solidariedade, que está diretamente relacionada com o voluntariado.
Moçambique já foi considerado um dos países mais pobres do mundo e foi um dos protagonistas das ações internacionais de ajuda humanitária. Tanto investimento estrangeiro pode ter contribuído para a inércia da população, que parece ter desaprendido a se ajudar. Prova disso é que, ainda hoje, a maior parte das iniciativas ligadas ao desenvolvimento social é criada e conduzida por cidadãos estrangeiros e quase não recebem apoio do governo, nem da sociedade.
E foi dessa contradição – povo que precisa de ajuda, mas não sabe se ajudar – que nasceu a Mozup. Uma plataforma para promover o voluntariado criada por quatro amigas que resolveram aproveitar a passagem por Moçambique para plantar uma nova semente na sociedade – que vai deixar frutos muito preciosos. Carlota Vilalva, Eduarda Vaz, Marta Ribeiro e Teresa Graça, uma brasileira e três portuguesas, respectivamente, que escolheram unir seus talentos para conectar organizações que precisam de voluntários e voluntários que não sabem por onde começar.
Pra quem acompanha o Think Twice Brasil, em algum momento já deve ter lido sobre o Atados – Juntando Gente Boa, que também é um canal de conexão entre ONGs e voluntários no Brasil. A Mozup segue a mesma linha genial de pensamento! Não é a toa que já andaram trocando figurinhas … Afinal, o objetivo maior é simplesmente fazer o bem. Não importa se no Brasil, em Moçambique ou no mundo todo.
Acompanhamos de perto o trabalho da Mozup, em especial da Carlota, que foi a grande responsável por nos apresentar projetos transformadores, e ficou claro o impacto crescente das ações que vêm desenvolvendo. Com cinco meses de vida a Mozup já reúne doze organizações parceiras e eu espero que esse número cresça ainda mais nos próximos meses.
O sonho da Mozup? Despertar e cultivar a prática do voluntariado entre os próprios moçambicanos, já que eles, mais do que ninguém, sabem do que o seu povo precisa e de que maneira isso pode ser feito. Na conversa que tivemos com a Carlota deu até pra lembrar um dos lemas do Think Twice Brasil – “A felicidade só é real quando compartilhada”, quando ela nos disse que se todos soubessem como é boa a sensação de fazer o bem, o mundo seria muito melhor. O vídeo ali embaixo mostra mais desse papo.
Foi graças à Carlota que conhecemos o Osvaldo Lourenço, que como exceção à regra, é um moçambicano da Beira, cheio de carisma e energia, e fundador da Associação Cultural Muodjo.
Durante os anos em que o país estava submerso em sua guerra civil, Osvaldo ainda era um criança e sofreu de perto as consequências, inclusive durante o tempo em que viveu na rua. Foi quando despertou para o seu grande sonho: trabalhar para que nenhuma outra criança tivesse que passar pelas mesmas dificuldades que ele.
Quando ainda vivia pelas ruas de Maputo, Osvaldo recebeu a ajuda de um missionário, que lhe deu a oportunidade de mudar a sua história e o ajudou a compreender o sentido daquilo que hoje ele defende com tanta força: “Ninguém vive para si mesmo”.
Os anos se passaram, o sonho de Osvaldo cresceu e acabou se transformando em uma realidade que muda a vida de dezenas de crianças: a Muodjo.
Muodjo é escuridão, justamente de onde Osvaldo pretende livrar as crianças e os jovens, por meio da educação. São vários programas que variam desde a alfabetização até a profissionalização, incluindo também atenção especial a portadores de deficiência física e visual.
As atividades se concentram no bairro de Matendene, no subúrbio de Maputo, que surgiu no ano de 2000, depois da série de enchentes que assolaram a cidade e forçaram as famílias que perderam tudo a reconstruírem suas vidas em outro lugar.
Pudemos conversar também com a diretora da escola, Marta Cavel, e sentimos de perto o amor que circula entre as crianças e os voluntários. Marta carinhosamente nos acompanhou até as salas de aula e nos apresentou à criançada, que nos receberam com palmas, músicas e muitas danças.
Marta, assim como Osvaldo, é pura inspiração. Deixou seu posto como professora da escola internacional de Maputo para se dedicar, integral e exclusivamente, a formar as crianças da Muodjo. Para ela “estamos aqui de passagem”, então o melhor que podemos deixar é amor. E eu senti esse amor na pele com a meninada pendurada nas minhas costas e pescoço
De novo o amor. A solução parece tão simples…
Saindo de lá, perguntei para o Fe como seria se o mundo fosse feito só de crianças. Teria muito bullying, óbvio. Mas também teria pureza, inocência, amizade e o tal amor. Porque a gente nasce sabendo amar. As crianças amam qualquer coisa… Pai, mãe, tias esquisitas, pessoas desconhecidos, desenhos animados…
Acontece que em algum momento da vida a gente passa a acreditar que deve escolher quem recebe o nosso amor, quando na verdade a gente pode amar todo mundo e pode ser amado por eles também. O amor não precisa fazer escolhas. Quem ama e é amado, simplesmente é escolhido.
Carlota, Osvaldo, Marta, Fe, eu e todas as pessoas que têm cruzado nosso caminho são prova disso. O amor nos conduziu e a nossa missão nos escolheu.
E eu só tenho a agradecer por isso
Gabi.
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