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Reflexão #3 - Vamos fazer as pazes?


Quando a notícia de que eu deixaria meu emprego para viajar pela África e Ásia se espalhou na mídia – Brincs! Só entre os amigos mesmo – eu fui bombardeada com muita energia positiva, mas também com muitas perguntas e comentários desafiadores.


“Vai largar o emprego?”, “Se quer ajudar, vai pro nordeste”, “Deve ta muito rica pra poder fazer isso”, “Vai viajar sem se casar?”… essas foram algumas das minhas preferidas hehe que são capazes de mostrar um pouco como estamos condicionados a enxergar só a superfície. O fundo do mar, que é tão mais bonito, quase nem dá tempo de olhar…


E é sobre isso que eu quero falar. Sobre o fundo do mar. Não no sentido literal – até porque tentei fazer um curso de mergulho e desisti nos primeiros 5 metros submersa. Deu paniquinho

Quero falar sobre a beleza e a libertação de ver além do que estamos acostumados. E aceitar que podemos fazer diferente.


Essa reflexão é especial pra quem acha demais a ideia do Think Twice Brasil, pra quem sente que tem que achar demais só porque é meu amigo ou pra quem acha a maior babaquice do mundo hehe. Isso é tipo uma cartinha pra você .

Eu decidi seguir o meu coração. Demorou alguns anos pra entender o que ele queria me dizer, mas aos poucos fui descobrindo que eu podia fazer escolhas e eu seria a única responsável por elas.


Eu podia escolher trabalhar muitas horas por dia, ganhar um bom salário, perder alguns jantares em família, esperar ansiosamente pelas férias, financiar um apartamento, comprar o que todo mundo tem que ter, trocar de carro, sofrer pra fazer ginástica e acordar sonhando com a sexta-feira. Eu podia escolher deixar pra viver depois de ter cumprido aquele velho cheklist: casa própria, casamento, filhos crescidos e previdência privada.


Mas não. A minha escolha foi viver desde já, mesmo que isso pareça ser nadar contra a maré. Mas cá entre nós, nadar contra a maré nunca foi um problema pra quem sofria muito bullying na escola e ainda acredita que pode mudar o mundo. Pelo menos um pouco.


Porque será que a gente vai aceitando tudo sem acreditar que existe outra saída? Ai quando alguém foge do padrão, as pessoas acham que você comeu drogas e ficou muito doido – tipo o que alguns acham de mim agora – justo eu, que costumava ser modelo de coxinha desde o nascimento.


Percebi muito essa resistência ao diferente nas últimas semanas, observando alguns dos meus amigos que subitamente tornaram-se economistas, sociólogos e políticos e esqueceram-se de olhar pro tal fundo do mar. Ficaram só na superfície e mesmo assim se afogaram em colocações preconceituosas, infundadas e vazias. O que mais me impressionou é que muitos dos que defendem o separatismo de São Paulo e manifestaram-se em ofensiva aos nordestinos e eleitores de um determinado partido, são também os que, curiosamente, acham incrível eu estar no meio da África tentando aprender sobre como trabalhar pela igualdade social. Amigo, você está ME zoando ou você está SE zoando ?


E depois de muuuuito pensar sobre o que poderia ter gerado essa avalanche de posicionamentos descabidos, eu acabei concluindo que isso deve ser um pedido de ajuda de um tanto de gente que passa os dias fazendo o que não gosta, pra comprar o que não precisa e esperando que o governo, a sociedade, Deus, Nostradamus ou qualquer outra entidade dê fim aos problemas que todo mundo enfrenta.


É isso! Um pedido de ajuda, gente!!! Um pouco desesperado, claro, mas é porque ninguém estava ouvindo antes! É tipo briga de irmão… você tenta chamar a atenção e ele nem liga, até que você é obrigado a dizer que ele foi encontrado no lixo hehe pronto! Gerou tristeza, baixo astral e desrespeito, mas ele te ouviu.


Estamos vivendo uma grande briga de irmãos. Simplesmente porque precisamos de ajuda pra fazer as nossas escolhas. Melhor, porque queremos ter certeza de que somos NÓS quem devemos escolher e parece não haver muita gente esclarecida pra pegar na nossa mão e falar: Não, você não foi encontrado no lixo. A cegonha que te trouxe hehehe. Agora lave o rosto, faça as suas escolhas sem copiar o coleguinha e seja feliz.


Vamos parar de culpar os outros, pessoal! O nordeste, o partido X, o seu chefe, o ex namorado… isso tudo é superfície. O fundo do mar é você. E o que você tem feito pelo país, pelo seu propósito, pelo seu amor? O que você tem feito por você? É meio cansativo esse papinho de achar que é sempre culpa do irmão.


Outro dia assistimos a um documentário incrível – I Am – que dentre várias coisas, fala um pouco sobre essa história de nadar contra a maré, sair da superfície e buscar respostas fora do que todo mundo costuma repetir – sem parar pra pensar, claro.


Um exemplo fantástico de nadar contra a maré é o querido Pepe Mujica, presidente do Uruguai. Ele quebra todos os protocolos e vai de encontro ao que todo presidente “precisa” ser. Dirige um fusca, doa 90% do salário e defende que ”para que todos esses sonhos sejam possíveis, precisamos governar a nos mesmos, ou sucumbiremos porque não somos capazes de estar à altura da civilização em que fomos desenvolvendo.” Esse trecho é parte de um discurso do Mujica na ONU, que vale MUITO a pena ler a íntegra – clique aqui.


Enfim, respondendo àlgumas daquelas perguntas do início, larguei meu emprego, peguei minha modesta poupança e resolvi atravessar o oceano para entender como posso me desprender de tudo que aprendi até hoje – e parece não fazer mais sentido. Viajei sem casar, mas aguardo as cenas dos próximos capítulos hehe


E hoje estou aqui escrevendo esse texto ouvindo Jamie Cullum em um albergue na Zâmbia – com o Fe por perto organizando alguma coisa, pra variar – e sentindo a beleza de viver o simples e a liberdade de ter feito uma escolha consciente.


Agora não preciso mais culpar a minha irmã Quer fazer as pazes ?


Gabi.

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